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Edição nº 298 - Setembro de 2025 - ano XXVI

Dormir nu é virtuoso. Nudez em família.
Aparentemente vai sendo comum dormir-se pelado no Brasil, o que é saudável e educador em prol da nudez natural. Quem dorme despido não carece, necessariamente, de vestir-se, ao levantar-se, para deambular pela casa, o que facilita a nudez doméstica e a normalização da nudez como liberdade e naturalidade, sem conotação negativa nem sexual. Dormir nu e manter-se assim representará, para muitos, o primeiro passo da nudez natural.
Por Arthur Virmond de Lacerda Neto
Muitos são ensinados a dormir vestidos de pijama, o que é útil como proteção térmica, se necessário. Há pijamas de inverno, que agasalham em noites frias, e os há de verão, finos, que recobrem o corpo muito menos por proteção térmica do que por costume de estar vestido. Pijamas em dias quentes são excrescentes. Se nos interrogam, à guisa de objeção anti-nudista: por que dormir nu ?, o nudista replica-lhe: por que de pijama ?
Dormir de cuecas é expressão de autocensura, em relação a quem pode fazê-lo nu: ele incorporou o pudor, o sentimento de vergonha da nudez. Os que assim o fazem, fazem-no sem consciência de sua motivação: se homem se interroga porque dorme de cuecas, não sabe responder; se tanto dirá que o faz por ser-lhe confortável ou porque gosta, porém não sabe explicitar porque gosta nem justificar tal conforto. Na verdade, não há motivo algum e sim a influência do ambiente brasileiro, em que é

Mulher nua dormindo; Nu Allonge, (Nude Woman Sleeping; Nu Allonge, ) de Henri Lebasque.
Óleo sobre tela. Sem data. Estilo Pós impressionista
“correto”, “moral”, “decente” encobrir a genitália, inclusivamente de si próprio: estamos em plena herança do concílio de Trento que, no século XVI, elegeu a nudez como inimigo que derrotar.
Algumas matérias (aliás bastante superficiais) nos meios de comunicação (de 2024) enfatizaram, com estatística duvidosa, ser alegadamente benéfico para a vida conjugal dormir nu. Até pode sê-lo; não é nisto, porém, que radica o valor, ético, de dormir em pelo e sim na habituação à nudez, na sua dessexualização, no reconhecimento da desnecessidade de vestir-se para dormir (se a temperatura assim o permitir).

A nudez em família também é benéfico para a saúde e a educação sexuais.
É positivo os pais (que dormem despidos ou vestidos) andarem nus pela casa, ao levantarem-se e ao transitarem do quarto para o banheiro e vice-versa, e por outros cômodos da residência (sala, cozinha, corredor, área de serviço, quintal): espontaneamente apresentam a seus filhos a naturalidade e a inocência da nudez, bem assim a ausência de estigma sobre as mamas, o escroto e o pene, que a gimnofobia e o pudor censuram (a bunda é já “apresentável” há décadas); ao mesmo tempo é educador os pais permitirem que seus filhos façam o mesmo. Todos no lar poderão usufruir de liberdade, naturalidade, conforto, sem malícia.
A nudez doméstica é excelente forma de nudez natural e de dissociar nudez de sexualidade. Tal liberdade (de pais e filhos) há de ocorrer durante a infância, a adolescência e posteriormente. Na Europa e no Japão
é assim, sem restrição etária. No Brasil, muitos põem-se nus quando a sós em suas residências; outros não se envergonham de andarem nus entre banheiro e quarto, em presença de esposa, marido, filhos.
Há ereções matinais (na verdade, há 4 ou 5 ereções por noite, de que a derradeira coincide eventualmente com o horário de despertar), fenômeno perfeitamente natural, que nada tem de vergonhoso e que não há de ser ocultado (nem ostentado) da esposa nem dos filhos. Sua ocorrência na presença dos últimos ensejará explicação do genitor sobre tal fenômeno e sua normalidade, se for o caso, ou indiferença. Nada da sexualidade humana deve ser tabu. Aliás, dormir de cuecas é indesejável porquanto falo há de estar livre em seus intumescimentos noturnos.
Filhos afeitos a observarem pai e mãe nus serão menos sujeitos a associarem nudez com sexualidade, a verem a nudez maliciosamente, a serem primários no trato do corpo e da sexualidade, a estigmatizarem bunda, bico do seio, escroto e falo, a envergonharem-se de ser vistos nus; em suma: criar-se-ão com a liberdade, a naturalidade, a maturidade e a ausência de malícia próprias do nudismo. Nudismo em casa é virtuoso.
Espontaneamente, nem as crianças nem os adultos envergonham-se de seu corpo, de partes dele nem de serem vistas em pelo; são os adultos que lhes inculcam tal vergonha e que, por sua vez, aprendem de outros adultos por sua vez já maliciosos ou pudicos. Pudor e malícia não são espontâneos e sim aprendidos; não integram a natureza humana e sim os condicionamentos culturais. Sociedades humanistas desusam o pudor, a gimnofobia, a malícia; reconhecem a dignidade de todo o corpo, bem assim a naturalidade e a inocência da nudez.
“A nudez no lar é excelente e natural”, escreveu Alexandre Neill (célebre educador e instituidor da escola Sumerhill). “[...] o nudismo em família é excelente método educador.” Ponderou João [Jean] Deste, a propósito da educação dos filhos(1). Ela é usual na Europa há gerações, há mais de um século, notadamente na Alemanha, na Áustria, na Croácia, em França, na Suécia, na Noruega, na Finlândia, na Bélgica, bem como no

Crianças não nascem com sentimentos de pudor e malícia (reprodução de cartão de felicitações natalinas)
Japão; gerações de europeus e de japoneses vem sendo criados em presença de pai, mãe, irmãos comumente pelados em casa.
Muitas mães (também pais) no Brasil banham seus filhos crianças enquanto elas próprias o fazem: também é forma espontânea de as crianças verem a nudez materna e paterna, e serem vistas em pelo, com espontaneidade e normalidade, sem constrangimento nem conotação erótica. É costume positivo pelo lado da praticidade, do asseio infantil e da formação do infante. Os pais trocarem de roupa de porta aberta e banharem-se de porta aberta são também formas pedagógicas de não se incutir gimnofobia nem sexualização do corpo.
Alguns interrogam-se em até que idade dos filhos pode haver nudez doméstica: em todas as idades. Ao longo da infância, na passagem dela para a adolescência, ao longo desta, a naturalidade há de ser a mesma. Cessar o nudismo em alguma idade importa, do momento em que ele cessa por diante, infundir pudor, criar malícia, sexualizar a nudez, precisamente o que o nudismo contraria.
Em muitos lares, ainda gimnofóbicos, os pais, os avós ou os demais moradores aceitam a nudez na casa de dormir de cada um, porém não nos recintos comuns (cozinha, sala, corredor); mal não há em que se possa andar despido em casa, especialmente em clima quente, como o da maioria do Brasil.
O limite da liberdade de cada um, se por um lado pode implicar limitação de sua nudez perante outrem, por outro implica limite

Utopicamente poderíamos todos viver nus em todos os lugares
na censura da nudez alheia, da parte de quem a recusa. A nudez de cada qual começa em seu próprio corpo e nele finda, sem interferir com outrem; quem não gosta, não use, e não pode impedir que use quem o queira, desde que sem prejuízo a terceiros. O nudismo é inofensivo, não causa prejuízo a ninguém; ao revés: propicia a erradicação de vergonhas sem sentido, da malícia e da sexualização da nudez. É como o casamento homossexual: quem não o aceita, não se case com pessoa do mesmo sexo; não pode coibir o casamento alheio.
(1) João [Jean] Deste: Le nudisme, Paris, 1961, página 181.
Arthur Virmond de Lacerda Neto é curitibano Colaborador do Jornal OLHO NU há muitos anos. Diplomou-se em Direito pela Universidade Federal de Brasília [1989] e cursou Mestrado em História do Direito na Universidade de Lisboa. Artigo redigido em junho de 2025
(enviado em 21/08/25)