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Nudez Social: Libertação, Tabus e Cura

A nudez, algo tão natural quanto respirar, carrega em nossa sociedade uma carga pesada de tabus, culpa e vergonha. Desde a infância somos ensinados a cobrir o corpo, a escondê-lo, a tratá-lo como algo indecente, como se a simples existência da nossa pele exposta fosse um pecado. Essa narrativa, fortemente reforçada por visões religiosas dogmáticas, moldou a maneira como lidamos com o próprio corpo, e, por extensão, com nossa autoestima, sexualidade e relações humanas.

por Mestre Jean Pangolin*

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Religiões organizadas, ao longo dos séculos, propagaram a ideia de que o corpo nu é símbolo de fraqueza espiritual ou desvio moral. Esse ensinamento, ainda que muitas vezes inconsciente, gerou camadas de repressão que se enraizaram nas instituições sociais e em nossa própria psique. A consequência é um ciclo de vergonha, medo e desconexão corporal que nos distancia da nossa essência mais pura: a aceitação plena de quem somos.

Psicologicamente, o tabu da nudez alimenta transtornos profundos. Muitos desenvolvem dismorfias corporais, transtornos de ansiedade e depressão associados à vergonha do próprio corpo. A gordofobia, por exemplo, pode crescer também dessa distorção, criando uma cultura onde apenas certos tipos de corpos são permitidos e celebrados, enquanto outros são ridicularizados ou invisibilizados. Além disso, a nudez reprimida reforça dinâmicas de poder, onde o corpo se torna um instrumento de controle social, hierarquizando as pessoas segundo padrões de beleza, raça, classe e gênero.

​A exposição consciente e respeitosa à nudez social pode, no entanto, ser profundamente terapêutica. Neste sentido, práticas como o naturismo, banhos de floresta nus, encontros terapêuticos e outras vivências de

nudez não erótica permitem que as pessoas reconectem-se com seus corpos de maneira saudável e livre de julgamento. Estar nu em um espaço seguro é um ato de libertação, pois dissolve a ilusão de separação, desfaz hierarquias impostas pela roupa, e confronta medos internalizados.

É natural que, inicialmente, o medo da sexualização da nudez surja, fruto de uma cultura que erotiza compulsivamente tudo o que é oculto, porém, surpreendentemente, essa tensão se desfaz em poucos minutos de exposição, pois quando todos estão nus, o mistério que alimenta a imaginação erotizada se dissipa, e o corpo volta a ser apenas corpo. A curiosidade deixa de existir, pois no lugar da fantasia, nasce a presença real, tornando as relações mais verdadeiras, livres da artificialidade gerada pelos jogos sociais que a roupa muitas vezes impõe. Olhamos para o outro, finalmente, sem o filtro da projeção, e encontramos, ali, humanidade.

​Entretanto, é importante reconhecer que nem toda expressão da nudez é saudável ou libertadora, pois pessoas que carregam desequilíbrios emocionais profundos podem usar a exposição do corpo como uma tentativa de extravasar neuroses não elaboradas. Nessas situações, despir-se não nasce da aceitação de si, mas da ansiedade, da necessidade de choque ou da fuga de dores internas não resolvidas. Neste sentido, para essas pessoas, a nudez pode se tornar mais uma forma de repetição do sofrimento, em vez de um caminho para a cura. A preparação emocional é essencial, pois é preciso desenvolver um senso de enraizamento e responsabilidade interna para que a nudez social não seja apenas mais um sintoma de desequilíbrio, mas sim um gesto consciente de liberdade.

Para quem enfrenta bloqueios de ordem sexual, traumas de abuso, baixa autoestima ou fobias corporais, experiências guiadas de nudez podem ser revolucionárias, desde que feitas com acompanhamento e consciência. O corpo, quando visto em sua simplicidade e dignidade, deixa de ser um objeto e volta a ser reconhecido como lar, como território sagrado. A nudez consciente pode tratar feridas antigas, fortalecer a

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autonomia, curar relações quebradas com o próprio desejo e desfazer a vergonha que tantas vezes sufoca a alma.

Em um mundo que insiste em nos vestir de medo e culpa, despir-se é um ato de resistência e amor. É um convite para voltar a ser inteiro, com todas as imperfeições, todas as histórias marcadas na pele, e reconhecer, na vulnerabilidade da nudez, a verdadeira liberdade.

*Mestre Pangolin é pseudônimo de Jean Adriano, que está no naturismo, juntamente com sua esposa, há cerca de 20 anos. São filiados à AMANAT desde 2024, participando de diversos eventos e iniciativas institucionais. É professor da UFRB. É licenciado em Educação física e possui várias formações acadêmicas com graus de Mestre e Doutor em Ciências da Educação. Já ocupou vários cargos executivos em organizações ligadas a educação e esportes.

 

 

(enviado em 30/04/25)

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