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Naturismo na Galheta ainda em perigo

Por Pedro Ribeiro

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Não é segredo para ninguém que todas as praias naturista do Brasil sofrem com ações de algumas pessoas que as frequentam, mas não têm atitudes naturistas e, muitas vezes, têm atitudes criminosas, como, por exemplo, relações sexuais em local público. Mesmo sabendo que esse e outros crimes não são exclusividade das praias naturistas (apenas oito no Brasil), algumas autoridades e uma parcela da população insistem na premissa de que o Naturismo é o causador destes tipos de crimes sexuais. Desta forma acreditam que a extinção da prática naturista nestes locais também extinguirá esses problemas.


É com essa ideia torta na cabeça, que alguns vereadores da cidade de Florianópolis e

alguns moradores passaram a exigir a extinção da prática do Naturismo na praia da Galheta, tradicional reduto do nudismo há mais de 50 anos e oficializada por lei em 1997. Desde 2016, no entanto, uma mudança na tipificação da área de parque Natural da Galheta, para Monumento natural da Galheta, feita de maneira no mínimo estranha, secreta, sem consultas públicas e sem ciência das associações que fazem parte do Conselho Consultivo, simplesmente tirou do novo texto a autorização para a prática naturista na área – veja bem, não proibiu, mas omitiu. Essa nova redação só foi descoberta, pasmem, em 2022 (seis anos depois!) e, desde então, uma guerra contra os naturistas se instalou na praia da Galheta, com registros de atitudes violentas contra quem estivesse nu, por parte de algumas pessoas vestidas que frequentam a praia e aparentemente são contra o nudismo. O nudista, a vítima da violência, passou a ser considerado o culpado pela própria violência que sofria.

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Alguns vereadores da Câmara Municipal de Florianópolis, por motivos desconhecidos ou não claros, resolveram apoiar a extinção da prática do Naturismo justamente por conta dos atos de violência ocorridos na área registrados em veículos de comunicação de massa, alegando que os crimes praticados são causados por nossa filosofia de vida. (como citei no início deste texto, são apenas oito praias naturistas no Brasil, contando com a Galheta, isto que dizer que nas outras 41 praias da cidade, ou nos outros milhares de praias não naturistas espalhadas por todo o Brasil não ocorrem estes tipos de crimes sexuais e violentos, é isso mesmo? Como seria fácil para o poder público resolver a violência no Brasil, se ela se restringisse às oito praias naturistas!)


Toda essa polêmica ocasionou o pedido de uma audiência pública para a Câmara de Vereadores de Florianópolis para debater com a população a questão: Violência na praia da

Galheta, mas na verdade o principal objetivo seria o de receber o aval da população para proibir a prática do Naturismo.

 

A Audiência Pública ocorreu na quinta-feira, dia 11 de abril no “plenarinho” da Câmara de Vereadores da cidade de Florianópolis, capital do Estado de Santa Catarina, às 14 horas. O auditório estava lotado e a sessão foi transmitida ao vivo pela TV Câmara da cidade. Dirigiu  a sessão o presidente da Câmara, o vereador João Cobalchini, que se diz não contrário ao Naturismo, no entanto, apresentou projeto de lei pedindo a proibição da prática na praia da Galheta, projeto esse retirado de pauta, por ele ter tido conhecimento então que o novo plano de manejo já não previa a prática no local.

Então, neste clima de desconfiança, a AGAL (Associação dos Amigos da Galheta) convidou frequentadores da praia e outras entidades organizadas favoráveis à manutenção do Naturismo na praia da Galheta, para comparecerem em massa ao dito Plenarinho para se colocarem contra a ideia de que o Naturismo é igual à violência. Muitos atenderam este pedido, mas também muitos contrários ao naturismo. Acabou-se formando uma polarização dentro da Câmara do a favor e do contra, facilmente notada.


A vereadora Maryanne Mattos (PL) abriu o trabalho e convidou os componentes da mesa para ocuparem lugares, autoridades de diversas funções. Logo em seguida passou o comando da assembleia para o vereador João Cobalchini (MDB), que selecionou os falantes a partir de uma lista de inscrição previamente organizada. Cada um teria apenas três minutos

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para expressarem suas opiniões, com acréscimo de 30 segundos, caso fosse necessário.

 

Seguiram-se então diversas opiniões sobre o assunto que na verdade era o tema central: “naturismo é igual à causa da violência na praia Galheta e por isso ele deve ser proibido”. Todas as intervenções poderão ser acompanhadas no vídeo abaixo, que está hospedado no YouTube.

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Destaco a participação dos defensores da manutenção do Naturismo na praia da Galheta nas falas do dr. Anselmo Machado, que defendeu uma lei que regulamente a prática do Naturismo independente do Plano de Manejo do parque ambiental; de Miriam Alles, presidente da AGAL, que situou historicamente a criação da Galheta e da AGAL; de Pedro Ribeiro, membro do Conselho Maior da FBrN, que questionou a ideia de que se acabar com o Naturismo acaba com todas as violências sexuais da praia e de Leonardo Ferronato que defende a luta com objetivo comum, contra a violência propriamente dita juntamente com as questões ambientais.


A maior parte das falas foi contra a violência e a ausência do poder público constituído (governos

municipal e estadual) no patrulhamento da praia, mas alguns depoimentos tentavam associar o fato de as pessoas estarem nuas com a causa dos atos de violência ocorridos. Declarações como “desde que foi permitida a nudez, eu não posso ir com minha família à praia”, ou “não se pode fazer nenhum programa (?) na praia sem ser assediado por outras pessoas”.

A conclusão final, no entanto, feita por alguns componentes da mesa é de que o nudismo está ilegal na praia da Galheta e que “é melhor os naturistas colocarem roupas ou terão problemas”, opinião contrária a do representante do Ministério Público de Santa Catarina, Jadel da Silva, que entendeu que não há nenhuma lei que impeça a prática do Naturismo na praia da Galheta, pois a lei que a instituiu não foi revogada explicitamente, mas omitida de um novo documento criado em 2016. Ou, seja, a luta continua.

Assista na íntegra toda a Audiência Pública em vídeo produzido pela TV Câmara de Florianópolis e disponível no YouTube. Para facilitar o jornal OLHO NU mostra as posições no vídeo das falas destacadas:
Dr. Anselmo Machado 34:07
Miriam Alles, presidente da AGAL 29:15
Pedro Ribeiro, representante da FBrN 44:18
Leonardo Ferrorato, ativista  1:28:45
Jadel Silva, procurador do Ministério Público estadual 15:47

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(enviado em 14/04/24 via WhatsApp)

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