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Edição nº 295 - Junho de 2025 - ano XXV

O Naturismo foi ao teatro mais uma vez: sem pudor
Um grupo de naturistas cariocas se reuniu para assistir, de forma naturista, mais uma peça de teatro. Foi no dia 23 de maio, em bairro tradicional no centro da cidade do Rio de Janeiro
Por Pedro Ribeiro

Eram 11 os naturistas que haviam reservado a ida, porém dois não compareceram e não puderam desfrutar da experiência, da simpatia e do carinho de como fomos recebidos pelo trio de atores, que se alternam nas funções de recepcionista, sonoplasta, iluminador, direção e de barman. Aliás, enquanto esperávamos o início da performance, todos foram agraciados com saquinhos de pipocas, o que se repetiu no intervalo da peça.
Os espectadores só tiraram as roupas quando todos já haviam chegado e a porta da entrada da casa, que fica numa vila cercada de várias outras casas de moradores, foi trancada. Aliás, a relação do grupo teatral com a vizinhança é de muita troca de gentileza e cordialidade, segundo Luiz Felipe Prado, ator e um dos idealizadores do projeto, juntamente com Dimitria e Jullie Turque. Ele e Dimitria moram no
Santo Cristo e Gamboa, dois tradicionais bairros do Centro da cidade do Rio de Janeiro, nunca mais serão os mesmos após a encenação da peça “Quem é que tem pudor, quando gosta? – uma experiência cênica”, do jovem grupo Teatro do Divã. No dia 23 de maio, nove naturistas frequentadores da praia do Abricó, no Rio de Janeiro, reservaram a noite para assistirem “ao natural” a performance dos três atores, que interpretaram quase uma dezena de personagens a partir de textos do dramaturgo Nelson Rodrigues, baseados principalmente em “Vestido de Noiva”.
O espetáculo é encenado dentro de uma casa comum, com pouquíssimas adaptações para se tornar um teatro convencional. Construída na década de 50 do século passado, possui cômodos pequenos, (sala, onde se passa a maior parte da encenação, três quartos, onde dois deles também fizeram parte da função, copa-cozinha, outro local que foi muito utilizado na trama, banheiro e uma escadaria (utilizada duas vezes) que leva a um terraço (não usado na apresentação).
Os espectadores acompanham a trama de um cômodo para outro, de maneira íntima, quase fazendo parte das performances. A lotação máxima é de 11 espectadores por sessão, para que todos possam se acomodar com certo conforto e não causar “engarrafamento” no trânsito da mudança de cenário.

local. Eles já convidaram os vizinhos para assistir a peça várias vezes, recebem agrados tipo bolos e até uma das peças cênicas foi feita por uma vizinha, que adora fazer crochê. “Somos um grupo de amigos recém-formados em teatro (dezembro de 2023), que desenvolveu o projeto alugando a casa, construindo o texto, ensaiando e encenando todos juntos” conta Luiz.

O fato de nós (os espectadores) estarmos nus não causou qualquer constrangimento nos atores (que atuaram vestidos todo o tempo, com exceção de uma cena em que as atrizes tiveram seus seios à mostra e o ator ficou sem camisa), tampouco nos naturistas, que acompanharam a encenação percorrendo os diversos cômodos onde elas ocorreram, sempre acompanhados de suas toalhinhas ou cangas para poderem sentar-se higienicamente. Os atores confessaram que acharam a experiência muito válida e nos convidaram para voltar outras vezes: “Nunca tínhamos tido experiência com naturistas, mas foi muito bom termos este tipo de plateia, que foi muito comportada e respeitosa” declarou Dimitria.
Após o final do espetáculo houve um bate-papo descontraído, quando espectadores puderam
inquirir os atores sobre o texto e a atuação deles e os atores puderam saber um pouco mais sobre Naturismo.

Muitos dos naturistas presentes tiveram sua primeira experiência ao natural em ambiente que não é estritamente naturista. Waldyr Raphael, associado da ANAbricó e experiente em locais naturistas, no entanto, foi a primeira vez em que esteve nu em ambiente deste tipo; “Eu sou militar; e tirar as roupas junto de uma coletividade não é novidade pra mim. Ir ao teatro, assistir a uma peça também não; no entanto tirar as roupas numa peça teatral, e ainda poder interagir com os artistas, isso foi inusitado. Apesar de ter sido a primeira vez da qual participei, eu me senti à vontade por estar no meio de amigos com o mesmo pensamento que eu. Pra mim o naturismo é um estilo de vida, ao qual ninguém vê o outro com indiferenças; pelo contrário: há um respeito pela natureza e pelas pessoas. Eu particularmente não fiquei atento somente à peça a qual assistíamos. Também observei o comportamento de todos que estavam ali presentes. Em nenhum instante houve
falta de respeito ou comportamentos libidinosos dos presentes. Já vi, sim, coisas desse tipo em locais com pessoas vestidas; Até mesmo com pessoas próximas a mim. Acredito que, no patamar naturista, todos os eventos sejam idênticos, no que se refere a comportamentos. Os organizadores do evento estão de parabéns! A plateia também.” Declarou ele.

Victor foi outro associado da ANabricó que teve também a primeira experiência deste tipo. A diferença é que ele também é praticamente recém chegado no Naturismo: “Eu fiquei feliz pela experiência da peça e por estar despido fora da praia. Iniciei a jornada no naturismo ano passado e só tenho colecionado transformações na minha vida. Antes do naturismo, ficar nu na frente de outras pessoas não era algo comum na minha vida. Eu até evitava, para ser bem sincero. Acho que posso contar nos dedos (risos tímidos). E eu vejo o quanto essa jornada modifica a forma como eu me enxergo e enxergo os outros. O fato do evento ser em uma casa fez com que fosse mais fácil de viver essa experiência. Gostei de poder interagir com o grupo. Nunca vou me esquecer.” Confessou.
Johnny é muito mais experiente no Naturismo, inclusive é organizador de eventos de nudez social que costumam atrair muita gente para Niterói, cidade onde os realiza. Ele deu seu depoimento sobre o que viu e sentiu no teatro: “Eu gostei muito
da estética da apresentação de hoje. A casa antiga, o trabalho com as luzes e até mesmo a gente ao redor compuseram cenas bonitas.”
Terezinha, a única mulher naturista presente, é muito mais experiente e costuma visitar áreas e eventos naturistas em vários estados do Brasil. Associada da ANAbricó deu seu ponto de vista do que encontrou nesta noite de arte e Naturismo: “A interação com outras pessoas naturistas é sempre ímpar, principalmente quando ela acontece plena e respeitosa. A peça misturou momentos de fantasia, de loucura, de lucidez e de realidade de forma harmônica", avalia.
"A percepção coletiva foi interessante e proveitosa para todos." Continua Terezinha
"Não existe vergonha onde o que interessa é fazer e conservar amizades entre todos (Eu não tenho pudor em tirar as roupas, pois não sou julgada entre os meus iguais e, sim, respeitada e até admirada por alguns)." Afirma.
Acho que o local e a peça foram perfeitos, pois, se fosse realizado em um espaço maior, seria mais complicado todos interagirem, como ocorreu, por exemplo, na cena do espelho na mesa.” Conclui Terezinha.
Ricardo é outro Naturista de longa data. Achou ótima experiência.
"Além da vivência teatral - o local, a interação com os artistas, os "fantasmas" e "assombrações" presentes na obra de Nelson Rodrigues, a viagem ao subconsciente e ao mundo das visões e dos sonhos, num texto caótico e desarrumado, com vimos ontem - ainda houve a fortíssima experiência naturista, de liberdade, quebra das convenções, e a cumplicidade e a camaradagem que toma conta do grupo, unido, como se fosse num uniforme, nas vestimentas ... o nu!"
Que venham novas experiências como esta.
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(enviado em 24/05/25)